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Segunda e terça-feira

Qual é o certo: Segunda e terça-feira ou segunda e terça-feiras? Foi assim que me perguntaram. Excelente dúvida, que também virou minha antes de recorrer a gramáticas para ver as regras de plural e ir à caça de uma resposta tão específica. Uma em especial fez muito sentido porque veio acompanhada de simples explicação. É preferível a forma “segunda e terça-feira”, sem plural em “feira”. “Segunda” é uma redução de segunda-feira, já registrada em dicionários e mais do que consagrada pelo uso. Então, segunda é igual a segunda-feira. Se temos, em segunda e terça-feira, uma forma reduzida (segunda) e outra completa (terça-feira), não há razão para pluralizar a palavra “feira”, já que ela não se refere à primeira, que já tem sentido completo. Fica justificada, então, a forma correta: segunda e terça-feira. Em tempo: vale deixar registrado que o plural de segunda-feira é segundas-feiras.

A somatória

É fato o uso cada vez maior do substantivo feminino “somatória”. Professores de português, no entanto, recomendam somente o masculino, “somatório”. Uma ida rápida aos dicionários indica que somatória é palavra inexistente na língua portuguesa como substantivo. Só pode ser usada como adjetivo. Consultei, nessa busca, a versão on-line de “Houaiss”, “Michaelis” e “Aulete Digital”. Folheei, ainda, os minidicionários “Sacconi”, “Aurélio” e “Melhoramentos”. Mas Maria Helena de Moura Neves, em seu “Guia de Uso do Português”, constata: somatória é mais freqüente que sua forma no masculino (está em 63% dos diversos registros de sua extensa pesquisa). Pela semelhança com “soma”, palavra feminina, cogita-se a transformação de somatório em somatória. O sentido não muda: significa a soma das somas. E aí? Para espanto de uns e alívio de outros, o “Volp” bate o martelo: registra somatória e somatório. Então, pode usar as duas. Fim de papo.

Aficcionado ou aficionado?

A segunda forma é a correta. Com um “c” só. Aficionado entrou na língua portuguesa pelo espanhol, com o sentido de afeiçoado, entusiasta, admirador, amador, simpatizante. Apesar de reger as preposições “a” e “de”, tem sido comum o uso de “por”. Exemplo: Meninos são aficionados por (a/de) futebol.

O carro capotou ou encapotou?

A primeira forma é a correta. O carro capota. Capotar e encapotar existem, mas têm sentidos diferentes. Capotar é tombar (o veículo), virando para baixo ou dando voltas sobre si. No sentido figurado, significa fracassar e, também, dormir de cansaço. Encapotar é agasalhar-se, com capa ou capote. Figurativamente, é disfarçar-se, para não ser reconhecido.

Vale a pena ou vale à pena?

A primeira forma é a correta, sem crase. Podemos analisar de duas formas. Primeira: A pena vale. A dor vale. Sujeito e verbo. Ao inverter a ordem, temos: vale a pena. Segunda: O esforço vale a pena. O esforço vale o sacrifício, não *ao sacrifício. De todas as formas, temos somente um artigo depois de “valer”, sem preposição. Portanto, sem crase.

Grifar ou grafar com maiúsculas?

A segunda forma é a correta. Grifar significa sublinhar, marcar palavras ou números com sublinha, a fim de chamar a atenção, destacar. Exemplo: Grifei duas linhas daquele texto. Já grafar tem o sentido de escrever uma palavra, optando por determinada grafia. Exemplo: Meu nome, Telma, é grafado sem “h”.

Suficiente ou sulficiente?

A primeira forma é a correta. Talvez por influência da pronúncia da palavra, a sonoridade pode sugerir uma consoante “l” depois da vogal “u” em palavras como suficiente, conjugar (*conjulgar), preocupar (*preoculpar), entre outras. Outro erro do mesmo tipo, mas menos comum, é escrever *muinto em vez de muito. Nesse caso também há influência da fala na hora da dúvida quanto à grafia.

Nova ortografia 4

Para encerrar a apresentação do que muda na ortografia do português depois do novo acordo entrar em vigor, a partir de 2009, leia hoje as poucas exceções às regras do hífen com prefixos. Exceção à regra básica (hífen antes de palavras que começam com a letra H): subumano e subumanidade. O prefixo co se aglutina, em geral, com a palavra que se inicia pela vogal O. Exemplos: coobrigação, cooperação, coordenação. Com os prefixos circum e pan, há hífen antes de palavra iniciada por M, N e vogal. Exemplos: circum-navegação, pan-americano. Usa-se sempre o hífen com os seguintes prefixos: além, aquém, ex, recém, pós, pré, pró, sem, sota, soto, vice e vizo. Exemplos: ex-prefeito, sem-terra, além-mar, recém-nascido, pós-graduação, pró-reitoria. Não há hífen em palavras que perderam a noção de composição. Exemplos: paraquedas, paraquedista. O novo acordo ortográfico ainda não é claro sobre esse aspecto.

Nova ortografia 3

Leia hoje sobre as regras do hífen e no dia 2/11 sobre suas exceções. O hífen com prefixos e elementos que podem funcionar como tal passa a ter uma regra básica e menos exceções. O que define se há hífen é a letra final do prefixo e a letra inicial da palavra que o recebe. Regra básica Há hífen antes de palavras que começam com a letra H. Exemplos: co-herdeiro, mini-hotel. A exceção é subumano. Prefixos com vogal no fim Diante de palavras que começam com vogais: sem hífen diante de vogal diferente (autoescola, antiaéreo); com hífen diante de vogal igual (micro-ondas, contra-ataque). Diante de consoantes: sem hífen (seminovo). Quando começar por R ou S, estas serão dobradas (ultrassom). Prefixos com consoante no fim Diante de palavras que começam com vogais: sem hífen (superinteressante, interestadual). Diante de consoantes: com hífen diante de consoante igual (inter-regional); sem hífen diante de consoante diferente (supersônico).

Nova ortografia 2

Leia hoje as alterações na acentuação de algumas palavras. Idéia vira ideia Os ditongos abertos éi e ói das paroxítonas (tônica na penúltima sílaba) não são mais acentuados. Exemplos: apoia, colmeia, Coreia, estreia, geleia, heroico, joia, plateia. Feiúra vira feiura O I e o U tônicos que seguem o ditongo de uma paroxítona não são mais acentuados. Exemplo: baiúca. Argúem vira arguem Deixa de existir o acento agudo do U tônico nas formas do presente do indicativo (e imperativo) dos verbos arguir e redarguir. Exemplos: ele argui, eles arguem. Vôo vira voo Palavras terminadas em êem e ôo(s) perdem o acento circunflexo. Exemplos: leem, doo, enjoo, zoo. Enxagúo vira enxaguo Verbos terminados em guar, quar e quir, como aguar, enxaguar, obliquar e delinquir, perdem o acento no U quando este é tônico. Exemplo: enxaguo. Quando o A e o I forem tônicos, as formas devem ser acentuadas. Exemplo: enxáguo.

Nova ortografia 1

Depois de ler na coluna anterior o que muda no alfabeto, leia hoje sobre o acento diferencial e o trema. Acento diferencial O acento diferencial de pára, pêra, péla, pêlo, pólo deixa de existir. Mas alguns acentos diferenciais permanecem. O de pôde, pretérito perfeito do verbo poder, para diferenciá-lo da forma do presente. O de pôr, verbo, para diferenciá-lo de por, preposição. E permanecem também os acentos que marcam a diferença entre singular e plural dos verbos ter e vir (e derivados) no presente. Exemplos: ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm; ele mantém, eles mantêm; ele intervém, eles intervêm. Trema O trema (¨) deixa de ser escrito sobre a letra U quando esta é pronunciada nas sílabas gue, gui, que, qui. Exemplos: ambiguidade, Anhanguera, cinquenta, equestre, frequência, liquidificador, sanguíneo, sequestro, tranquilo. Mas ele permanece em palavras estrangeiras e em suas derivadas. Exemplos: Hübner e hübneriano.

O novo acordo ortográfico

Em 29/9, na sede da ABL (Academia Brasileira de Letras), o presidente Lula assinou o decreto que determina o cronograma de implantação do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Criado em 1990 por lexicógrafos portugueses e brasileiros, o acordo propõe a unificação da forma de escrever algumas palavras. Ele não abrange todas as diferenças ortográficas, mas já representa um avanço significativo. O acordo entrará em vigor em 1º/1/2009 e o período de transição será de três anos. As regras atuais e as novas coexistirão até o fim de 2012. Depois disso, só será aceita como correta a ortografia do novo acordo. Neste mês, a coluna “Língua portuguesa” apresenta e explica o que muda. Hoje, fique sabendo sobre as letras que voltam a integrar nosso alfabeto. Letras do alfabeto Voltam oficialmente as letras K, W e Y, que, de fato, nunca tinham saído. O alfabeto ficará assim: A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K, L, M, N, O, P, Q, R, S, T, U, V, W, X, Y, Z.

Massivo e maciço

Já era. Não é mais possível afirmar que massivo é uma palavra que não existe em português. Com o sentido de compacto, de que tem grande massa, quantidade, grande escala ou proporção”, massivo já está presente em muitos textos. Eduardo Martins, em seu “Manual de Redação e Estilo”, é taxativo: “Não existe em português. Use maciço ou compacto.”. Os dicionários “Houaiss” e “Michaelis” não registram o verbete. Já para o “Aulete Digital”, é uma palavra como outras. Está lá. Para bater o martelo, o Volp (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa) registra. Existe e ponto. Maria Helena de Moura Neves, em seu “Guia de uso do português”, no verbete “maciço”, conta que a forma massivo, do inglês “massive”, é usada mais na imprensa. Ela constata que em geral a palavra acompanha substantivos abstratos, como apoio, consumo, sucesso e uso. E parece ser esta a tendência de diferenciação de uso que já se nota: massivo para substantivos abstratos e maciço para os concretos.

Ele discuti ou ele discute?

A segunda forma é a correta. Os verbos terminados em “-ir” são escritos com “e” na terceira pessoa do singular do presente do indicativo: ele discute, corrige, dirige, diverte, garante, submete, subverte etc. “Discuti” é a forma da primeira pessoa singular do pretérito perfeito (exemplo: eu discuti com ele) e a forma da segunda pessoa do plural no imperativo (exemplo: discuti vós imediatamente este assunto).

Dia a dia, o dia-a-dia

Leitores do BOM DIA estão em dúvida sobre o hífen no nome do caderno “Dia-a-dia”. Será que está certo mesmo? Está sim. Isso não significa que não exista “dia a dia”. Vamos ver a diferença dos dois. 1. Dia-a-dia Dia-a-dia, com hífen, é um substantivo e significa a sucessão dos dias, o cotidiano, a rotina. Seu plural é dia-a-dias. Exemplo: Atualmente, o dia-a-dia das pessoas é sempre corrido. 2. Dia a dia Sem hífen, dia a dia é uma locução adverbial e significa diariamente, cotidianamente, cada dia. Exemplo: A rotina das pessoas fica dia a dia mais corrida. O hífen marca a diferença entre substantivo e advérbio. Para não errar: o substantivo recebe um artigo antes (o menino, o dia-a-dia), mas o advérbio não (diariamente, não *o diariamente). Coloque o artigo para descobrir se é substantivo. Se for, haverá hífen.

Ele possui ou ele possue?

A primeira forma é a correta. Os verbos terminados em “-uir” são escritos com “i” na terceira pessoa do singular do presente do indicativo: ele possui, atribui, conclui, constitui, contribui, dilui, diminui, flui, inclui, instrui, restitui etc. O plural é feito com “e”: eles possuem, atribuem, contribuem, diluem, incluem, restituem etc.

Ruço ou russo?

As duas palavras são corretas. Por terem pronúncia idêntica, são chamadas de homônimas. Ruço é o mesmo que grisalho, loiro ou de cabelo castanho claro, mas também pode ser algo velho, surrado, esmaecido pelo uso. No sentido figurado, é aquilo que é complicado, perigoso e até apertado. Ainda pode ser sinônimo de nevoeiro. Já russo se refere à língua russa e a quem é natural da Rússia.

Apunhalada ou punhalada?

As duas palavras são corretas. Apunhalado é o adjetivo que veio do particípio do verbo apunhalar. Significa aquele que foi ferido ou morto com punhal. No sentido figurado, magoado, ofendido. Já punhalada veio do substantivo punhal. Significa o ferimento feito com punhal. No sentido figurado, golpe moral profundo, traição, ingratidão ou decepção.

Tinta óleo ou tinta a óleo?

A segunda forma é a correta. Como temos dois “as” seguidos em “tinta a óleo”, na pronúncia fica a sensação de que há só um “a”. Da fala até a escrita sem o “a” que é preposição, o caminho é curto. E errado. Dois substantivos não são escritos lado a lado desta forma em português. Ou se tem uma palavra composta (tinta-óleo) ou óleo é adjetivo. E não é o caso nem de um nem de outro. A tinta é à base de óleo.

Hipercorreção

“E o principal, temos em Pequim a delegação melhor preparada (...).” A frase é do ministro do Esporte, Orlando Silva, e foi publicada na coluna “Ponto de vista” do dia 13. Ele e muitos de nós, uma hora ou outra, acabamos errando na tentativa de acertar todas. Quem nunca ouviu que “não existe ‘mais bem’, o correto é ‘melhor’”? Resultado: preocupados em não errar, saímos corrigindo tudo o que é “mais bem” por “melhor”, até aqueles corretíssimos casos de “mais bem”. Isso se chama hipercorreção. Basicamente, é corrigir o que não está errado. Pela regra, quando os advérbios “bem” e “mal” vêm antes de um particípio, eles não se contraem com o “mais”. Assim, o certo é “delegação mais bem preparada”. Hoje já se admite na língua falada o uso de “melhor” em construções como essa do ministro. Na escrita culta, ainda é erro. Um caso mais comum de hipercorreção acontece com quem aprende que o correto é “velha”, e não “véia”, e passa a falar também “telha de aranha” e “arelha de pralha”.

Decorrente ou recorrente?

As duas palavras são corretas, mas seus significados são bem distintos. Decorrente é o que passa, o que é conseqüente. Exemplo: O valor do seguro do carro é decorrente de um cálculo estatístico. Já recorrente é o que torna a aparecer ou a acontecer. Exemplo: A segurança é um tema recorrente nas campanhas eleitorais.

Nada a ver, haver ou à ver?

A primeira forma é a correta. “Nada a ver” é uma expressão dita quando não se vê relação entre uma coisa e outra, por isso o verbo “ver”, e não o “haver”. Exemplo: Não tive nada a ver com o fato. A crase não se justifica nesse caso porque antes de verbos não há artigo definido (elemento essencial da crase). Em tempo: o “que” às vezes substitui o “a”. Exemplo: Isso não tem nada que ver comigo.

A despeito de

“A despeito de mim mesmo, entro na onda da alegria eufórica das rodas sociais, dos embalos descolados da juventude em clima de aqui e agora (...).” A frase causa um estranhamento: “a despeito de” usado no sentido de “a respeito de”. Não há como significar outra coisa muito diferente de “a respeito de”. Muito menos o real sentido de “a despeito de”: apesar de, não obstante. O dicionário “Houaiss” registra que despeito é o “ressentimento produzido por desconsideração, desfeita, humilhação ou ofensa”. Também pode significar desgosto, decepção, pesar e até indignação, raiva, inveja e ciúme. Já a locução “a despeito de” significa “apesar de”, como já dito. Essas duas locuções dão uma idéia oposta àquela expressa na outra parte do enunciado, contrariando uma provável expectativa. Veja um uso correto: “A despeito da crise mundial da economia, os investimentos no mercado brasileiro continuarão em um patamar alto”.

Pães franceses

“Qual é o plural de pão francês?” Depois de responder “pães franceses”, bateu a dúvida, já que nunca tinha falado ou ouvido falar tal plural. Fui pesquisar. Por mais estranho que possa parecer, o plural de pão francês é tema polêmico. Muitos têm essa dúvida e muitos especialistas dão a resposta. O pior é que eles dão duas respostas diferentes: pães francês e pães franceses. Para alguns, compramos pães do tipo francês, por isso, o plural é pães francês. Mas como isso causa um problema aparente de concordância, a sugestão deles é sempre mudar a frase para nunca falar pães francês. Depois dessa explicação longa que termina com “mude e fale de outro jeito porque a forma correta é estranha”, algo não parece certo. Vamos comparar? Um pão italiano, dois pães italianos. Pão é substantivo e italiano é adjetivo. O adjetivo concorda com o substantivo, como em pão grande e pães grandes. Os dois no plural. Por que isso não valeria para o pão francês? Um pão francês, dois pães franceses.

Fusível ou fuzil?

As duas palavras são certas, mas têm sentidos diferentes. Fusível (ou fúsil, forma menos usada), de acordo com o dicionário “Houaiss”, é o “fio de chumbo ou de alguma liga fundível que, colocado num circuito elétrico, se funde, cortando a corrente quando a intensidade desta atinge certo limite”. Já o significado mais conhecido de fuzil é espingarda, arma de cano comprido.

Tamanho-família ou tamanho família?

A segunda forma é a correta. O hífen que marca a formação de uma palavra com sentido diferente das duas que ele une não se justifica nesse caso. Não há um sentido novo. O substantivo “família” está na função de adjetivo. É um adjetivo como “grande” e “pequeno”: tamanho grande, tamanho pequeno, tamanho família.

Espinha ou espinho?

As duas palavras existem e têm sentidos diferentes. Espinha é o mesmo que coluna vertebral. O peixe tem espinha. Já as plantas têm espinhos, alguns confundidos com acúleos. Os acúleos são destacáveis e não ferem a planta quando arrancados (exemplos: rosa e paineira). Os espinhos não são destacáveis e, quando retirados, lesionam o tecido subjacente da planta (exemplos: limoeiro e laranjeira).

Esquadrilha ou esquadria?

As duas palavras existem, mas têm significados bem diferentes. Esquadrilha, na marinha, é uma esquadra formada por pequenas embarcações de guerra; na aeronáutica, é o grupo de aeronaves que realiza uma operação. Já esquadria é o acabamento de portas, janelas, varandas etc. Também pode ser o ângulo reto e o corte neste formato.

Leitoa pururuca ou à pururuca?

A primeira forma é a correta. Pururuca é o que quebra com facilidade e o que se parece com a pele torrada, crespa e crocante, como um torresmo. Por ser adjetivo, não é precedido de “à”. Escrevemos leitoa pururuca assim como torresmo quente, mandioca frita e arroz branco. Pururuca também é o adjetivo usado para caracterizar alguém irritadiço e rabugento.

Vende-se casas

Em 2006, esta coluna deu a seguinte explicação para esclarecer uma dúvida comum: “vendem-se casas” ou “vende-se casas”? 1. A norma culta da língua considera “casas” como o sujeito de “vendem-se” na sua forma passiva “casas são vendidas”. Por isso, verbo no plural. 2. A nossa língua falada elegeu a forma “vende-se casas”. Entende-se que alguém vende as casas. O verbo fica no singular. A conclusão: as duas formas são usadas, cada qual em seu contexto. No entanto, cada vez mais aumenta o número de especialistas que justificam o uso correto do verbo no singular para essa construção. Veja: Em “vende-se casas”, “casas” é objeto do verbo “vender”. A regra mais geral é que o verbo concorda com o sujeito, não com o objeto. O sujeito de “vende-se casas” é indeterminado, no sentido de que não é expresso. O pronome “se” marca essa indeterminação do sujeito. Assim, o verbo fica no singular. A oração é ativa e é escrita, lida e analisada como tal. Portanto, escreva corretamente no singul

Segmento e seguimento?

Os dois substantivos existem e têm significados diferentes. Segmento é uma das partes de algo que foi dividido. Exemplo: Dentre os itens pesquisados, o segmento de produtos alimentícios foi o que teve maior alta. Já seguimento, do verbo seguir, significa continuação. Exemplo: O profissional deu seguimento a seu trabalho.

Agourar ou gorar?

Os dois verbos existem e têm sentidos diferentes. Agourar é prever algo (bom ou ruim), pressentir, antever (“agourou bem do novo colega”). Por vezes é usado no contexto de fazer (ou ser sinal de) mau agouro (“agourou seu inimigo”). Já gorar é o mesmo que estragar, apodrecer. Por extensão de sentido, significa também fracassar antes de iniciar, abortar, frustrar (“a amizade gorou”).

Câmpus

Sim, escrevi com acento. Não, não escrevi a palavra latina “campus”, escrevi sua forma aportuguesada, que tem acento circunflexo. Seu plural é câmpus também, assim como bônus e vírus, iguais no singular e no plural. As duas formas, tanto a latina “campus” (plural “campi”) como a portuguesa câmpus, são usadas e aceitas hoje em dia. É uma questão de preferência. No entanto, a forma latina ainda é mais freqüente. Em tempo: câmpus significa o espaço físico de uma universidade. Curiosamente, câmpus veio da forma latina “campus” pelo inglês. Nesta língua, a palavra tem dois plurais: o que veio do latim, “campi”, e o criado pelo inglês mesmo, “campuses”. Ao importarmos a palavra, optamos por ficar só com as formas latinas, que são bem mais a cara do português. Por terem essa semelhança com a nossa língua, visto que o português veio do latim, “campus” e “campi” facilmente são aportuguesadas sem causar tanto estranhamento. Escreva sem medo.

Seje forte ou seja forte?

A segunda forma é a correta. Não existe a forma “seje”, assim como não existe a forma “esteje” – a primeira do verbo ser e a segunda do verbo estar. Como são erros corriqueiros na norma culta da língua, esteja atento para sempre falar e escrever as formas conjugadas corretas desses verbos, com a terminação em “a”.

O coma ou a coma?

As duas formas são corretas, mas têm significados diferentes. A coma é o mesmo que cabelo crescido, grande e, nas partituras de música, é um sinal em forma de vírgula que indica o momento em que se deve respirar sem fazer pausa. O coma é o estado de perda total ou parcial da consciência, da motricidade e da sensibilidade geralmente devido a intoxicações, lesões cerebrais e problemas endócrinos e metabólicos.

DVD's ou DVDs?

A segunda forma é a correta. Com apenas um “s” e sem espaço. Não se usa o apóstrofo ( ' ) na formação do plural de siglas. Em português, o apóstrofo indica a omissão de um fonema (letra). Exemplo: copo de água = copo d'água. Veja plurais corretos: CDs, DVDs, RGs, CPFs, UTIs, ONGs.

Inclusive ou exclusive?

As duas formas são corretas. Ambas existem na língua portuguesa. São advérbios e seus sentidos, como parece, são opostos. Inclusive significa de modo inclusivo, sem exclusão, até mesmo (ex.: vi tudo, inclusive o quadro – vi o quadro também). Exclusive, por sua vez, é o mesmo que sem inclusão (ex.: comerei tudo, exclusive o doce – não comerei o doce).

Irriquieto ou irrequieto?

A segunda forma é a correta, escrita com “e”. Assim como irresoluto é o que não se resolveu, que não tem resolução, irrequieto é o que não se aquieta, não se mantém imóvel, é extremamente ativo ou indagativo (sobre pessoas). Irrequieto é o mesmo que travesso e o oposto de quieto, sossegado, calmo.

Inculcar ou encucar?

As duas formas estão corretas, mas elas não são sinônimas. Inculcar pode significar repetir seguidamente (para gravar, memorizar), simular (demonstrar), manifestar (revelar) e também inspirar (aconselhar, sugerir). Já encucar, um regionalismo brasileiro, em oposição aos de outros países, é o mesmo que meter na cuca, ficar cismado, ruminando uma idéia, cisma ou dúvida.

Em favor ou a favor?

As duas locuções são corretas. “A favor de” e “em favor de” significam “para o benefício de” e “em proveito de”. Além desses sentidos, “a favor” também é usado para dar a idéia de concordância, aprovação, em oposição a “contra”. Mesmo sendo equivalentes, sua escolha depende do antecedente. Exemplos: vento a favor e pedido em favor do filho.

Equoterapia ou eqüoterapia?

A primeira forma é a correta, sem trema. Vale lembrar que o trema, no portugês do Brasil, é escrito somente sobre a vogal “u” dos dígrafos “gu” e “qu” quando são seguidos pelas vogais “e” e “i”, quando a vogal “u” é pronunciada. Exemplos: agüentar, argüição, eloqüência e eqüino. Equoterapia é um método terapêutico e educacional direcionado a pessoas portadoras de deficiência e/ou com necessidades especiais.

O própolis ou a própolis?

As duas formas são corretas, por mais estranho que pareça. Própolis é um substantivo de dois números e dois gêneros, ou seja, sua grafia não varia para masculino e feminino nem para singular e plural. O própolis, ou própole, é uma resina produzida pelas abelhas a partir da coleta de várias substâncias e possui propriedades terapêuticas.

Salas de aula ou salas de aulas?

A primeira forma é a correta. Salas de aula, assim como métodos de ensino, termos de convênio e fogos de artifício. Funciona assim: quando dois substantivos são ligados por preposição e o segundo especifica o primeiro (mostra sua finalidade), o segundo não deve ser pluralizado. Mais exemplos: maços de cigarro, convênios de cooperação, redes de pesca, linhas de financiamento.

Ainda a fotinho

Na coluna anterior, mostrei como se faz os diminutivos de algumas palavras para esclarecer a dúvida que muitas pessoas recentemente têm tido: fotinho ou fotinha? Como dito, a regra da língua portuguesa na norma culta mostra que a formação correta do diminutivo é no masculino – fotinho. No entanto, não podemos desconsiderar que a fotinha está na fala da maioria da população. Os falantes fizeram o diminutivo e consagraram a forma “fotinha”, mas é importante não misturar o que acontece na língua falada do dia-a-dia da população com as regras da norma culta. “Fotinha” não é errado no contexto informal da fala, mas é, sim, errado na língua padrão – que é a variante da língua portuguesa prestigiada pela comunidade, usada oficialmente pelo governo, pela mídia, pelas escolas e empresas etc. Não são duas línguas diferentes, são duas variantes da mesma língua. O importante é saber em que contexto usar cada uma delas; isso vale para fotinha e fotinho.

Fotinho

Fotinho ou fotinha? A fotinho. A dúvida surge porque foto é uma palavra feminina terminada em “o” (de fotografia virou foto). Uma das poucas neste caso. Dos sufixos que podem ser usados para a formação do diminutivo, para o caso de “foto”, -inho é unânime. Para fazer o diminutivo, acrescentamos o sufixo e, no lugar da vogal no fim, entra -inho nas palavras terminadas em “o” e -inha nas terminadas em “a”. Assim, temos livro e livrinho, copo e copinho, porta e portinha, casa e casinha. O diminutivo é feito a partir da vogal no fim da palavra. Mas nem todas as palavras terminam em “a” ou “o”. Como fazer o diminutivo quando a palavra termina com a vogal “e”, por exemplo? Nesse caso, o gênero é levado em conta. Veja: o chefe, o chefinho; a chefe, a chefinha; dente, dentinho; pente, pentinho. Foto, terminhada em “o”, mesmo sendo feminina, recebe o sufixo -inho e vira a fotinho. O mesmo vale para a moto, redução de motocicleta: a motinho.

Bastantes

Bastantes pessoas vão achar que esta frase está errada. Isso é o bastante para que “bastantes” seja o tema da coluna de hoje. A palavra “bastante” pode ser usada em quatro situações: 1. Advérbio Exemplo: trabalhei bastante. Esse é o emprego mais comum, como advérbio, com o sentido de suficientemente, muito. Assim, fica sempre igual, sem plural. 2. Pronome indefinido Exemplos: bastante comida e bastantes dias. Nesses casos, “bastante” significa muito, numeroso, suficiente. Como pronome, sua concordância é feita com o substantivo a que ele se refere na flexão de número (singular/plural). 3. Substantivo Exemplo: não é o bastante. O artigo masculino mostra que “bastante” é substantivo. Varia em singular e plural. 4. Adjetivo Exemplo: ter dinheiro bastante. Significa o que satisfaz e até sobra, mas não é muito usual. Concorda com o substantivo em número.

Ironia

Um colega de trabalho que foi contrariado por outro mais velho chama-o respeitosamente de ancião. Quem acredita que realmente “ancião” foi usado com o sentido respeitoso? Em um curso, a jornalista Mariana Duccini resumiu perfeitamente o conceito de ironia: o enunciado diz, mas a enunciação nega. O enunciado é a manifestação por palavras ou qualquer texto, verbal ou escrito. A enunciação é a forma de manifestar os pensamentos por palavras, é produzir um enunciado. As palavras dizem, mas o contexto em que elas são ditas mostra exatamente o contrário do sentido delas. Foi o caso do “ancião”. A ironia é um artifício inteligente de contrastes, pois deixa aparente a distância intencional entre o que foi dito e o que foi realmente pensado. Exige perícia de quem de quem lê ou escuta para identificar e ter certeza de que um enunciado é irônico. Ancião é uma pessoa de idade avançada e, por isso, pode ser considerada respeitável ou antiquada. Depende da intenção e do contexto.

Porcentagem

O leitor puxou a orelha do BOM DIA com razão. O erro foi em um título publicado dia 16/3: “Em 20 anos, 60% da água do mundo serão impróprias”. Além da notícia um tanto quanto assustadora, o erro de concordância na porcentagem também chama a atenção. Em porcentagem, o verbo concorda com o número (40% são, 1% é). Se o número for acompanhado por um substantivo que o especifique (40% dos juros, 1% das taxas), a concordância é feita com esse substantivo em gênero (masculino/feminino) e número (singular/plural). Veja exemplos das combinações possíveis: - 1% é gasto; - 1% da água é limpa, 1% do gasto é justificado, 1% das luzes são azuis, 1% dos erros não são vistos; - 60% são gastos; - 60% da água será imprópria, 60% do dia é de sol, 60% das horas são marcadas, 60% dos livros estão lá. Adequando a concordância do título que foi publicado com erro, temos: “Em 20 anos, 60% da água do mundo será imprópria”.

A todos ou à todos?

A primeira forma é a correta, sem crase. Relembrando, a crase marca a fusão do artigo “a(s)” com a preposição “a”. A palavra “todos” é um pronome indefinido plural e significa todo mundo, todas as pessoas. Como os pronomes não são acompanhados de artigos, aquele “a” que tem antes de “todos” é somente preposição, portanto, sem crase.

Ensimesmado ou sismemado?

A primeira forma é a correta. O adjetivo ensimesmado significa concentrado, recolhido, voltado para dentro de si mesmo. Vem do verbo pronominal ensimesmar-se. É fácil de lembrar porque se assemelha a “em si mesmo”, que já dá a idéia de recolhimento, concentração. Uma curiosidade: ensimesmar-se entrou no português há mais de um século vindo do espanhol “ensimismar(se)”.

Concordância com idéias

É difícil acertar todas ao escrevermos idéias com a gramática das palavras. Idéias de coletividade expressas por uma palavra no singular e vice-versa suscitam a confusão na hora da concordância. Leia estes dois casos retirados das páginas do BOM DIA: 1. “No apartamento foram encontrados um arsenal.” (texto) 2. “Casos de meningite supera 2007” (título de nota) Em 1, o verbo está no plural, mas o sujeito, que tem sentido de conjunto de armas, é singular. Erro. Em 2, o sujeito é plural, mas o verbo está no singular. Erro também. Casos superam. No entanto, percebemos que quem escreveu pensou algo assim: “2008 supera 2007 nos casos de meningite, logo, casos de meningite de 2008 supera 2007”. Até explica, mas não justifica. Além da concordância, há outro erro. Falta paralelismo ao comparar casos de 2008 com o ano de 2007, não com os casos de 2007. O título deveria ser: “Casos de meningite superam os de 2007”. Para não errar, releia sempre.

Louva-a-deus ou louva-deus?

As duas formas estão corretas. Os dicionários e o Volp (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa) registram ambas, mas “louva-a-deus” é considerada a forma preferencial, isto é, apesar de reconhecer a grafia “louva-deus”, esta não deve ter a preferência na hora da escrita. Para o plural, a palavra não varia: os louva-a-deus.

O lengalenga ou a lengalenga?

A segunda forma é a correta. Lengalenga – escrita assim mesmo, sem hífen – é um substantivo feminino. Significa, de acordo com o dicionário “Houaiss”, conversa, narrativa ou peça de oratória enfadonha e monótona. Por extensão de sentido, também é tudo o que é demorado e fastidioso. É sinônimo de ladainha, lamúria e lenda, todas palavras igualmente femininas.

Qüiproquó

De pronúncia e grafia estranhas e difíceis, qüiproquó é palavrinha conhecida de muita gente. É a confusão causada por um engano. Confusões à parte, sua origem é um tanto quanto curiosa. O dicionário “Houaiss” marca o primeiro registro dessa palavra na língua portuguesa no ano de 1697. Veio do latim “quid pro quo”, que significa “uma coisa pela outra”. No contexto dessa época, “quid pro quo” era o nome dado a um livro que os boticários tinham para pesquisar uma droga na falta de outra. E não era raro acontecer de se confundir na troca, podendo ser vendido veneno no lugar de remédio. Daí o engano. Do significado primeiro de “livro que existia nas farmácias para indicar as substâncias que deveriam substituir as receitadas pelo médico, caso a farmácia não as possuísse”, derivou, por extensão de sentido, para engano, equívoco, “erro que consiste em tomar-se uma coisa por outra”. Por fim, chegou, por metonímia, ao sentido de “confusão criada por esse engano”.

Buxixo, boxixo, buchicho ou bochicho?

Vai dar o maior bochicho, buchicho, bochincho ou buchincho quando eu escrever aqui que buxixo não está nos dicionários nem no Volp (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa). Verdade. Há quatro formas registradas como corretas, todas com “ch”. O buxixo, bonitinho com “x”, não existe na atual norma culta da língua. Atualização de 27/01/2014: Faltou dar o significado de buchicho. Aqui vão as consultas que fiz no Houaiss e no Aulete Digital:

A comichão ou o comichão?

A primeira forma, por mais incrível que pareça, é a correta. A palavra comichão é feminina. No entanto, seu uso como substantivo masculino é bem mais difundido, mas que fique claro que é errado. Outra palavra que tempos atrás causou polêmica foi dó, que é masculina, mas seu uso era bem mais comum como substantivo feminino. Não erre mais essas duas: o dó e a comichão.

Que tal e quetais

“Quetais. Essa palavra existe?” Na hora, pensei que tinha faltado um espaço, seria “que tais”. Ainda assim soava estranho. Sempre ouvi “que tal”, e como uma pergunta. Fui verificar na internet se essa palavrinha era usada. Para meu espanto, há quase 10 mil “quetais” em sites diversos. Sim, fiz uma busca no Google. Depois, meu caminho foi ir aos dicionários. Nenhum deles me apresentou uma solução, mas o “Houaiss” chegou perto. No verbete “tal”, há a locução “que tal”, com dois significados. Um é o uso para pedir a opinião do interlocutor (exemplo: pensei em cinema, que tal?). O outro está com o sentido de “da mesma espécie, forma, natureza”. Exemplo: o grupo era formado por PSB, PC do B e outros que tais. “Que tais”, no plural e com espaço. Não “quetais”. Como visto, o dicionário já registra o uso, mas a grafia é “que tais”. Assim, mesmo lendo muitos “quetais” por aí, é bom saber que a forma correta na norma culta da nossa língua ainda é com espaço.

Mau português

A polêmica já tem mais de uma semana na coluna do Picôco. Ele escreveu, em bom português, “mau português”. Estava certíssimo. Mesmo assim, como “mau” e “mal” sempre geram dúvidas, recebeu puxões de orelha de alguns leitores. Desmerecido. Pela primeira vez vi leitores corrigindo erroneamente o jornal. Neste espaço já foi publicado, em 2006, uma explicação sobre “mau” e “mal”. Como faz tempo e a polêmica é recente, aqui vai novamente a explicação. “Mau” pode ser adjetivo (“menino mau”) e substantivo (“os maus serão punidos”). “Mal” pode ser advérbio (“mal educado” e “dormiu mal”), conjunção (“mal chegou, quis sair”) e também substantivo (“desse mal não sofro mais”). Uma dica para saber qual forma escolher na hora de escrever é: “mau” opõe-se a “bom” e “mal” opõe-se a “bem”. Disso, temos que o oposto de bom português é o mau português. Parabéns ao Picôco!

Bofe para o cachorro

Ontem, dia 26, o BOM DIA publicou no espaço “Sua palavra” a carta do aposentado Amâncio Ferrari intitulada “Sufixos do Romildo”. Nela, o autor lembrava-se de, quando criança, na década de 1930, ir comprar, a pedido da mãe, “500 réis de fígado para a 'misturinha' do almoço e 200 réis de bofe para o cachorro”. Logo em seguida, ele diz não saber até hoje de que parte do boi vem o bofe. Senhor Amâncio, o bofe é o pulmão. No plural, “bofes” significa o conjunto de vísceras de um animal. Hoje em dia, bofe tem outros sentidos. O dicionário “Houaiss” aponta vários, mas os mais conhecidos são: pessoas sem atrativos físicos, feias; meretriz em decadência física; na linguagem dos homossexuais, o indivíduo do sexo masculino; e temperamento, gênio. Há também as locuções. Veja: abrir os bofes é começar a berrar; custar os bofes é custar muito caro; pôr os bofes pela boca é o mesmo que estar ofegante, mostrar-se muito cansado; e ter bons bofes é ter bons pulmões, voz possante.

Aterrissar ou aterrizar?

As duas formas são corretas e igualmente usadas. No dicionário “Houaiss”, ao consultarmos o sentido de “aterrizar”, somos indicados a ir ao verbete “aterrissar”. Seu significado é pousar, descer, chegar e também “cair estendido, sobre qualquer coisa, após queda ou tombo”. Em tempo: não há forma com “z” para o substantivo aterrissagem.

Pit-bull ou pit bull?

As duas formas constam na língua portuguesa, mas a segunda é, de longe, a mais usada. O Volp (“Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”), da Academia Brasileira de Letras, registra com hífen; no entanto, no mundo virtual e no real, dicionários, jornais e revistas escrevem sem hífen, sejam eles especializados ou não em cães e na raça específica. Isso consagrou a grafia sem hífen. O plural é pit bulls.

Fatigar ou fadigar?

As duas formas são corretas e estão nos dicionários, mas a primeira é, sem dúvida, a mais usual. A forma fadigar é uso raro. Ambas significam levar ao estado de fadiga, cansar, causar enfado, enfastiar. O dicionário “Houaiss” apresenta o verbo extenuar como sinônimo e os verbos descansar e repousar como antônimos.

Bijuteria ou bijouteria?

A primeira forma é a correta. Do mesmo modo que se escreve abajur (e não “abajour”), a palavra bijuteria é registrada pelo dicionário “Houaiss” sem a letra “o”, presente só na palavra francesa da qual se originou. Bijuteria e abajur também estão com essa grafia no Volp (“Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”), da Academia Brasileira de Letras. Outra forma de escrever bijuteria é bijutaria.

O verbo pontuar

Além de tirar dúvidas e esclarecer casos mais complicados que a nossa língua apresenta, é sempre oportuno comentar neste espaço o uso que a imprensa faz de algumas palavras. O verbo pontuar é um que tem sido muito usado no sentido de salientar, ressaltar, destacar, realçar e enfatizar. Todos esses verbos são citados como sinônimo de pontuar, no entanto nenhum deles está no dicionário “Houaiss”. São eles: 1- usar sinais de pontuação; 2- assinalar com gestos ou exclamações distribuídos pelo tempo de duração de uma ocorrência; pontilhar; e 3- “fazer as vezes de complemento de; associar-se a, acompanhar”. Pontuar não é, então, usado no sentido adequado. Já pontualizar significa assinalar, caracterizar e destacar ou diferenciar por traços particulares. Sentidos mais próximos do pontuar erroneamente usado pela imprensa. O esperado é que a palavra esteja adequada ao contexto. Assim, sem complicar a leitura, os textos noticiosos ficam mais ricos e precisos.